Cursei o ensino fundamental nos anos 80. Naquela época, a aprendizagem era baseada na memorização, termo vulgarmente conhecido como "decoreba", que se tornou meu algoz na educação, pois o método tradicional vigorou durante toda minha escolarização. O modelo oferecia bons resultados nas áreas da alfabetização e do letramento, mas pecava pelo excesso de zelo. As provas objetivas exigiam que os alunos reproduzissem as disciplinas com a mesma fidelidade do conteúdo exposto em sala de aula. Era um tanto opressor!
Apesar do privilégio de ser matriculado num colégio particular, eu não estudava com motivação, pois o tradicionalismo permeava todos os sistemas de ensino do país.
Por causa disto, tive poucos professores memoráveis. Alguns, sequer são lembrados pelo próprio inconsciente. Outros conseguiram uma certa imortalidade nas fotografias analógicas em tamanho "20x30", que ainda guardo em alguns dos armário em casa.
As disciplinas de português e matemática eram extremamente valorizadas, ocupando uma enorme carga horária semanal. Às outras, restavam uma acirrada disputa por um pequeno espaço de tempo para completar a grade curricular, fenômeno semelhante aos horários destinados à propaganda eleitoral, onde os partidos considerados "nanicos" disputam míseras aparições em rede nacional, em descompasso com os partidos de alto escalão.
A prática das “decorebas” era estimulada pelos próprios professores. As avaliações consistiam, quase sempre, em cópias de questionários já aplicados durante as aulas. Esse tipo de prova desencadeava uma "corrida maluca" por parte dos alunos rumo à memorização das questões, à exaustão. Para obter nota, bastava simplesmente “decorar” o necessário.O currículo, por sua vez, não considerava muito disciplinas como Educação Artística, cuja carga horária era tão desprezível que tornava difícil a compreensão de certos eventos e expressões, tais como a "Semana da Arte Moderna" e “Cubismo".
No geral, tudo era muito distante da realidade do aluno.
Na literatura, as coisas eram ainda piores. As aulas eram desinteressantes, influenciavam ainda mais a dispersão dos alunos. Confesso que tive algum interesse pelo "realismo", mas reconheço que não gostei de José de Alencar. Acho que o conheci cedo demais (5ª série). A presença do escritor só deveria ocorrer a partir do ensino médio. Que os poetas me perdoem, mas nunca me fascinei pela "virgem dos lábios de mel".
Enfim, na escola, a aprendizagem era chata, pesada e tediosa.
O mal estava instalado até na educação física. Os exercícios de aquecimento pareciam penitências contra recrutas militares.
Já, no ensino médio, as coisas avançaram. Mudei de escola, que também era particular. Livrei-me de OSPB e de Educação Moral e Cívica. Esta última, só tinha "blá-blá-blá". Em novo ambiente, pude conhecer professores que exerciam a carreira de forma mais fascinante. Apesar do modelo tradicional ainda existir, os professores incrementavam suas aulas com seus currículos ocultos e práticas bem mais elaboradas. Ensinavam os "porquês" dos conteúdos, deixando os alunos bem mais interessados.
Devo reconhecer que foi o modelo tradicional que me alfabetizou. Tive também um bom letramento, que repercutiu na minha carreira profissional em função de aprovação em concurso público. Sabe-se que a língua portuguesa é requisito eliminatório em qualquer certame no território nacional.
Entretanto, o desenvolvimento de senso crítico reflexivo ocorreu mediante meus próprios questionamentos, bem como pela minha busca desenfreada por respostas. Nos horários de folga, eu costumava assistir não apenas a desenhos animados, mas também telejornais e documentários. Também lia revistas sobre música e carros, jornais "cultos" e "incultos” (populares), e tablóides de sindicatos.
A música também contribuiu muito para formação dos meus conceitos. Aos quinze anos, já desbravava a galeria do rock de São Paulo, onde o “compact disc” (CD) ainda não havia desembarcado. Comprava muitos discos. Curtia muitas bandas que tinham apelo social em suas canções. Sempre que possível, comprava revistas de letras traduzidas. Através da banda U2, descobri a existência de um conflito religioso na Irlanda. Com Roger Waters, do Pink Floyd, pude compreender as críticas que fazia à repressão exercida pela sociedade britânica sobre a juventude. Dos tupiniquins, eu admirava Cazuza e Legião Urbana. Eles me situavam no contexto político da época. Era muita aprendizagem. Já na escola...
Enfim, quando terminei o ensino médio, percebi que o currículo pouco acrescentou à formação dos meus conceitos. Eu me formei à base de fórmulas e equações pré-estabelecidas.
Partindo-se do pressuposto que falar em currículo é pensar a educação, a questão dos conteúdos sempre deverá ser discutida, a fim de preparar os alunos, de fato, para a vida.
Apesar do privilégio de ser matriculado num colégio particular, eu não estudava com motivação, pois o tradicionalismo permeava todos os sistemas de ensino do país.
Por causa disto, tive poucos professores memoráveis. Alguns, sequer são lembrados pelo próprio inconsciente. Outros conseguiram uma certa imortalidade nas fotografias analógicas em tamanho "20x30", que ainda guardo em alguns dos armário em casa.
As disciplinas de português e matemática eram extremamente valorizadas, ocupando uma enorme carga horária semanal. Às outras, restavam uma acirrada disputa por um pequeno espaço de tempo para completar a grade curricular, fenômeno semelhante aos horários destinados à propaganda eleitoral, onde os partidos considerados "nanicos" disputam míseras aparições em rede nacional, em descompasso com os partidos de alto escalão.
A prática das “decorebas” era estimulada pelos próprios professores. As avaliações consistiam, quase sempre, em cópias de questionários já aplicados durante as aulas. Esse tipo de prova desencadeava uma "corrida maluca" por parte dos alunos rumo à memorização das questões, à exaustão. Para obter nota, bastava simplesmente “decorar” o necessário.O currículo, por sua vez, não considerava muito disciplinas como Educação Artística, cuja carga horária era tão desprezível que tornava difícil a compreensão de certos eventos e expressões, tais como a "Semana da Arte Moderna" e “Cubismo".
No geral, tudo era muito distante da realidade do aluno.
Na literatura, as coisas eram ainda piores. As aulas eram desinteressantes, influenciavam ainda mais a dispersão dos alunos. Confesso que tive algum interesse pelo "realismo", mas reconheço que não gostei de José de Alencar. Acho que o conheci cedo demais (5ª série). A presença do escritor só deveria ocorrer a partir do ensino médio. Que os poetas me perdoem, mas nunca me fascinei pela "virgem dos lábios de mel".
Enfim, na escola, a aprendizagem era chata, pesada e tediosa.
O mal estava instalado até na educação física. Os exercícios de aquecimento pareciam penitências contra recrutas militares.
Já, no ensino médio, as coisas avançaram. Mudei de escola, que também era particular. Livrei-me de OSPB e de Educação Moral e Cívica. Esta última, só tinha "blá-blá-blá". Em novo ambiente, pude conhecer professores que exerciam a carreira de forma mais fascinante. Apesar do modelo tradicional ainda existir, os professores incrementavam suas aulas com seus currículos ocultos e práticas bem mais elaboradas. Ensinavam os "porquês" dos conteúdos, deixando os alunos bem mais interessados.
Devo reconhecer que foi o modelo tradicional que me alfabetizou. Tive também um bom letramento, que repercutiu na minha carreira profissional em função de aprovação em concurso público. Sabe-se que a língua portuguesa é requisito eliminatório em qualquer certame no território nacional.
Entretanto, o desenvolvimento de senso crítico reflexivo ocorreu mediante meus próprios questionamentos, bem como pela minha busca desenfreada por respostas. Nos horários de folga, eu costumava assistir não apenas a desenhos animados, mas também telejornais e documentários. Também lia revistas sobre música e carros, jornais "cultos" e "incultos” (populares), e tablóides de sindicatos.
A música também contribuiu muito para formação dos meus conceitos. Aos quinze anos, já desbravava a galeria do rock de São Paulo, onde o “compact disc” (CD) ainda não havia desembarcado. Comprava muitos discos. Curtia muitas bandas que tinham apelo social em suas canções. Sempre que possível, comprava revistas de letras traduzidas. Através da banda U2, descobri a existência de um conflito religioso na Irlanda. Com Roger Waters, do Pink Floyd, pude compreender as críticas que fazia à repressão exercida pela sociedade britânica sobre a juventude. Dos tupiniquins, eu admirava Cazuza e Legião Urbana. Eles me situavam no contexto político da época. Era muita aprendizagem. Já na escola...
Enfim, quando terminei o ensino médio, percebi que o currículo pouco acrescentou à formação dos meus conceitos. Eu me formei à base de fórmulas e equações pré-estabelecidas.
Partindo-se do pressuposto que falar em currículo é pensar a educação, a questão dos conteúdos sempre deverá ser discutida, a fim de preparar os alunos, de fato, para a vida.
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